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Um passeio no PARC: uma história de inovação

Eduardo Rocha • jan. 14, 2022

Incumbente ou disruptor? Entenda como funciona a inovação disruptiva e esteja preparado

Clayton Christensen publicou seu seminal “O Dilema da Inovação” em 1997. Os compact discs (CDs) eram a tecnologia dominante no mercado da música e estavam estabelecendo um novo recorde anual de vendas. A tecnologia experimentava um crescimento exponencial desde seu lançamento, 15 anos antes, e havia tomado praticamente toda a participação dos discos de vinil (LPs) e metade do mercado das fitas cassete. Havia uma outra tecnologia nascendo: um padrão de arquivo mp3 acabava de ser definido e os primeiros players portáteis estavam sendo desenvolvidos, mas o iPod só seria lançado quatro anos depois. Daniel Ek, que viria a criar o Spotify pouco mais de dez anos mais tarde, ainda era um adolescente em Estocolmo e começava a desenvolver websites para negócios locais. 


Christensen definiu o conceito de inovação disruptiva. O livro analisa o comportamento das empresas que exploram as tecnologias incumbentes, e discute as dificuldades que enfrentam em competição com as empresas que introduziram as novas tecnologias. Os CDs ainda teriam três anos com algum crescimento, antes de entrar numa rota ladeira abaixo em que foram ultrapassados pelos
downloads digitais, pelos serviços de streaming (em 2013) e, ironicamente, até pelos LPs em 2020, agora concorrentes no nicho “vintage”. Os exemplos estudados em seu livro são de uma outra era, mas isso o faz ainda mais notável: substituídos os exemplos por outras histórias que ocorreriam depois, e ocorrem cada vez mais rapidamente, o conceito é tão verdadeiro hoje como em 1997. No início, as novas tecnologias são subestimadas pelos incumbentes devido à sua performance insuficiente, a seu custo mais alto de acesso, ou uma combinação destes fatores. Christensen mostra que a evolução destas novas tecnologias acaba por superar estas desvantagens iniciais, e, então, é tarde demais para o incumbente reagir. Há muito mais incumbentes que ficaram pelo caminho do que empresas que foram capazes de se reinventar e permaneceram relevantes no mercado.


No final de 1979, um empreendedor de 24 anos de idade visitou um centro de pesquisas do Vale do Silício chamado Xerox PARC. Ele era o co-fundador de uma pequena startup de computadores situada ali perto, em Cupertino. O nome do empreendedor era Steve Jobs”.


Assim começa o artigo de Malcolm Gladwell, publicado na revista “The New Yorker” em maio de 2011, chamado “O Mito da Criação”. A visita de Jobs ao Palo Alto Research Center, centro de pesquisas fundado pela Xerox em 1970, foi recontada talvez centenas de vezes. O artigo de Gladwell é o mais importante esforço de investigação deste fato histórico, marcante tanto para a evolução da computação quanto para a história da inovação das empresas. A maior parte dos artigos sobre a visita tenta analisar o comportamento de Jobs no episódio, com vereditos que cobrem todo o possível espectro da ética empresarial. Os elementos da discussão baseiam-se no fato de que inovações em desenvolvimento no PARC e apresentadas durante a visita teriam inspirado a Apple ou fariam parte dos conceitos que seriam materializados no Macintosh, mas não seriam transformados em negócio pela Xerox.


A questão que sempre me atraiu, entretanto, foi o comportamento da Xerox no episódio, à luz dos conceitos de inovação disruptiva. A Xerox foi em 2020 uma companhia com faturamento anual superior a 7 bilhões de dólares e EBITDA superior a 800 milhões. Se estes números ainda são respeitáveis, a comparação com os resultados de 2010 é chocante: o faturamento era o triplo e o EBITDA, o quádruplo do atual. O centro de pesquisas continua sendo parte da Xerox, mas desde 2002 estabelecido como uma empresa independente. Sem dúvida, uma história com um gosto amargo.


A lista de inovações criadas no PARC é espetacular, muito mais vasta do que o punhado de conceitos usados no computador pessoal. Muitas destas inovações suportaram os resultados da Xerox nos mais de cinquenta anos em que o centro tem operado. Mas o fato de que estas inovações não foram suficientes para que a Xerox tivesse um destino diferente ilustra de forma dramática o dilema dos incumbentes, descrito por Clayton Christensen. É preciso muito mais do que uma equipe brilhantemente inovadora e protegida dos vícios corporativos das empresas estabelecidas, o que sem dúvida a Xerox foi capaz de criar. Malcolm Gladwell joga luz sobre o problema, ao levantar duas questões: em primeiro lugar, os conceitos desenvolvidos no PARC ainda estavam longe do que alcançariam dentro da Apple. Uma coisa é ter um mouse a um custo de 300 dólares, algo muito diferente é ter um mouse que funcione quase em qualquer superfície e que custe 15 dólares. A segunda questão é que transformar a ideia de 300 dólares no produto de 15 requer habilidades que vão muito além da inventividade, e  isso é talvez o que tem feito o sucesso da Apple, um equilibrio entre desafiar e incorporar restrições, um ambiente cheio de criatividade e improvisação.


Seja você um incumbente ou um disruptor, aprender com estas histórias possibilita que você busque destinos melhores. Estar atento a inovações geradas no mercado, incorporá-las de forma ágil, experimentar e aprender rapidamente com os testes está entre as habilidades necessárias a qualquer negócio, agora mais do que nunca. A
Zinneke faz a conexão entre empresas e profissionais do conhecimento, e pode ajudar sua empresa a ter acesso a inovações relevantes para o seu negócio, e a escalar a ideia que você está desenvolvendo. Fale conosco.


Eduardo Rocha adora inovações, histórias e é fundador da Zinneke


#inovação #disrupção

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